sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

PRECE DE UM CÃO ABANDONADO

Sabe senhor, ainda não entendi, viemos à praça, pensei ser um passeio, ele não tinha esse hábito, mas fui feliz.
Lá chegando, me deu as costas, entrou no carro e disse adeus. Olhei para os lados, nem sabia o que fazer: ainda tentei segui-lo, quase fui atropelado.
Que teria feito eu de tão mal?
À noite, quando ele chegava, abanava o rabo, feliz, mesmo que ele nunca viesse ao quintal me ver:
Às vezes eu latia, mas tinha estranhos no portão, não poderia deixa-los entrar sem avisar meu dono.
Quem sabe foi a minha dona quem mandou, devia estar lhe dando trabalho.
Mas não as crianças, eles me adoravam.
Como sinto saudades.
Puxavam-me a cauda, às vezes eu ficava uma fera, mas logo éramos amigos novamente. Creio que eles nem sabem, devem ter dito que eu fugi.
Estou faminto, só bebo água suja, meus pelos caíram quase todos, nossa como estou magro!
Creio que hoje, vou me encontrar contigo, aí no céu, e o meu sofrimento vai terminar.
Mesmo em espírito, vou ter permissão para ver as crianças.
Peço-vos, então, não mais por mim, mas pelos meus irmãozinhos:
- Mande-lhes pessoas que tenham compaixão, como eu, sozinhos não viverão mais do que alguns meses na terra do Homem.
- Amenize-lhes o frio, igual ao que agora sinto, com o calor dos atos das pessoas abençoadas.
- Diminua-lhes a fome, tal qual a que sinto, com o alimento do amor que me foi negado.
- Mata-lhes a sede, com água pura de seus ensinamentos transcritos ao Homem.
- Elimine a dor das doenças, extirpando a ignorância da terra.
- Tire o sofrimento dos que estão sendo sacrificados em atos apregoados como religiosos, laboratórios e tudo mais.Tirando das mãos humanas o gosto pelo sangue.
- Ampare as cachorrinhas prenhas que verão suas crias morrendo de fome, frio e pestes sem nada poderem fazer.
- Abrande a tristeza dos que, como eu, foram abandonados, pois entre todos os males, o que mais me doeu, foi este.
Receba, Pai, nesta noite gélida, a minha alma, pois não mais será o meu sofrimento, mas dos que ficarem, e é por eles vos peço.
Nota: ouço essa oração dos cães moribundos que vejo pelas ruas 

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