Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5,20)
(corresponde ao oxigenio consumido na degradação da materia organica, a uma temperatura média de 20°C durante 5 dias)
Figura 1 - Metabolismo de microrganismos heterotróficos
Neste esquema, apresenta-se o metabolismo dos microrganismos heterotróficos, em que os compostos orgânicos biodegradáveis são transformados em produtos finais estáveis ou mineralizados, tais como água, gás carbônico, sulfatos, fosfatos, amônia, nitratos, etc.
Nesse processo há consumo de oxigênio da água e liberação da energia contida nas ligações químicas das moléculas decompostas.
Os microrganismos desempenham este importante papel no tratamento de esgotos, pois necessitam desta energia liberada, além de outros nutrientes que por ventura não estejam presentes em quantidades suficientes nos despejos, para exercer suas funções celulares tais como reprodução e locomoção, o que genericamente se denomina quimiossíntese.
Quando passa a ocorrer insuficiência de nutrientes no meio, os microrganismos sobreviventes passam a se alimentar do material das células que têm a membrana celular rompida. Este processo se denomina respiração endógena.
Finalmente, há neste circuito, compostos que os microrganismos são incapazes de produzir enzimas que possam romper suas ligações químicas, permanecendo inalterados.
A DBO5,20 de uma água é a quantidade de oxigênio necessária
para oxidar a matéria orgânica por decomposição microbiana aeróbia para uma
forma inorgânica estável. Na figura 1, sintetiza-se o fenômeno da degradação biológica de compostos que ocorre nas águas naturais, que também se procura reproduzir sob condições controladas nas estações de tratamento de esgotos e, particularmente durante a análise da DBO5,20
Ao conjunto destes compostos dá-se o nome de
resíduo não biodegradável ou recalcitrante.
Pelo fato de a DBO5,20 somente
medir a quantidade de oxigênio consumido num teste padronizado, não indica a
presença de matéria não biodegradável, nem leva em consideração o efeito
tóxico ou inibidor de materiais sobre a atividade microbiana.
Os maiores aumentos em termos de DBO5,20, num corpo d’água, são provocados por despejos de origem predominantemente orgânica. A presença de um alto teor de matéria orgânica pode induzir ao completo esgotamento do oxigênio na água, provocando o desaparecimento de peixes e outras formas de vida aquática. Um elevado valor da DBO5,20 pode indicar um incremento da microflora presente e interferir no equilíbrio da vida aquática, além de produzir sabores e odores desagradáveis e, ainda, pode obstruir os filtros de areia utilizados nas estações de tratamento de água. No campo do tratamento de esgotos, a DBO5,20 é um parâmetro importante no controle das eficiências das estações, tanto de tratamentos biológicos aeróbios e anaeróbios, bem como físico-químicos (embora de fato ocorra demanda de oxigênio apenas nos processos aeróbios, a demanda “potencial” pode ser medida à entrada e à saída de qualquer tipo de tratamento).
Na legislação do Estado de São Paulo, o Decreto
Estadual n.º 8468, a DBO5,20 de cinco dias é padrão de
emissão de esgotos diretamente nos corpos d’água, sendo exigidos ou uma DBO5,20 máxima
de 60 mg/L ou uma eficiência global mínima do processo de tratamento na
remoção de DBO5,20 igual a 80%. Este último critério favorece
aos efluentes industriais concentrados, que podem ser lançados com valores de
DBO5,20 ainda altos, mesmo removida acima de 80%.
A carga de DBO5,20 , expressa em Kg/dia, é um parâmetro fundamental no projeto das estações de tratamento biológico. Dela resultam as principais características do sistema de tratamento como áreas e volumes de tanques, potências de aeradores, etc. A carga de DBO5,20 pode ser obtida do produto da vazão pela concentração de DBO5,20 . Por exemplo, em uma indústria já existente que se pretenda instalar um sistema de tratamento, pode-se estabelecer um programa de medições de vazão e de análises de DBO5,20 , obtendo-se a carga através do produto dos valores médios.
O mesmo pode ser feito em um sistema de esgotos
sanitários já implantado.
Na impossibilidade, costuma-se recorrer a valores
unitários estimativos. No caso de esgotos sanitários, é tradicional no Brasil
a adoção de uma contribuição “per capita” de DBO5,20 de 54
g.hab-1.dia-1. Porém, há a necessidade de melhor definição deste parâmetro
através de determinações de cargas de DBO5,20em bacias de
esgotamento com população conhecida.
EP/hab = Carga/dia Carga/hab/dia
No caso dos efluentes industriais, também
costuma-se estabelecer contribuições unitárias de DBO5,20 em
função de unidades de massa ou de volume de produto processado. Na tabela 1
são apresentados valores típicos de concentração e contribuição unitária de
DBO5,20 .
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Tabela 1 - Concentrações e
contribuições unitárias típicas de DBO5,20 de efluentes industriais
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Tipo de Efluente
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Concentração DBO5,20
(mg/L) |
Contribuição Unitária de DBO5,20
(kg/dia) |
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Faixa
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Valor Típico
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Faixa
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Valor Típico
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Esgoto sanitário
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110-400
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220
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54 g/hab.dia
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Celulose branqueada
(processo Kraft)
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-
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300
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29,2 a 42,7 kg/t
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-
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Têxtil
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250-600
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Laticínio
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1.000-1.500
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-
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1,5-1,8 kg/m3 leite
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-
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Abatedouro bovino
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1.125
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6,3 kg/1.000 kg Peso vivo
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Curtume (ao cromo)
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-
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2.500
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-
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88 kg/t pele salgada
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Cervejaria
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1.718
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10,4 kg/m3 cerveja
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Refrigerante
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-
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1.188
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-
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4,8 kg/m3 refrigerante
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Suco cítrico concentrado
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2,0 kg/1000 kg laranja
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Petroquímica
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-
|
-
|
-
|
-
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Açúcar e álcool
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25.000
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Fontes:Braile&Cavalcanti e CETESB
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Demanda Química de Oxigênio (DQO)( quantidade de oxigênio necessária para oxidação da matéria orgânica através de um agente químico). É a quantidade de oxigênio necessária para oxidação da matéria orgânica através de um agente químico. Os valores da DQO normalmente são maiores que os da DBO5,20, sendo o teste realizado num prazo menor.
O aumento da concentração de DQO num corpo d’água
deve-se principalmente a despejos de origem industrial.
A DQO é um parâmetro indispensável nos estudos de caracterização de esgotos sanitários e de efluentes industriais. A DQO é muito útil quando utilizada conjuntamente com a DBO5,20 para observar a biodegradabilidade de despejos. Sabe-se que o poder de oxidação do dicromato de potássio é maior do que o que resulta mediante a ação de microrganismos, exceto raríssimos casos como hidrocarbonetos aromáticos e piridina.
Desta forma, os resultados da DQO de uma amostra
são superiores aos de DBO5,20. Como na DBO5,20 mede-se
apenas a fração biodegradável, quanto mais este valor se aproximar da DQO
significa que mais biodegradável será o efluente.
É comum aplicar-se tratamentos biológicos para
efluentes com relações DQO/DBO5,20 de 3/1, por exemplo. Mas
valores muito elevados desta relação indicam grandes possibilidades de
insucesso, uma vez que a fração biodegradável torna-se pequena, tendo-se
ainda o tratamento biológico prejudicado pelo efeito tóxico sobre os microrganismos
exercido pela fração não biodegradável.
A DQO tem demonstrado ser um parâmetro bastante eficiente no controle de sistemas de tratamentos anaeróbios de esgotos sanitários e de efluentes industriais.
Após o impulso que estes sistemas tiveram em seus
desenvolvimentos a partir da década de 70, quando novos modelos de reatores
foram criados e muitos estudos foram conduzidos, observa-se o uso prioritário
da DQO para o controle das cargas aplicadas e das eficiências obtidas.
A DBO5,20 nestes casos tem sido
utilizada apenas como parâmetro secundário, mais para se verificar o
atendimento à legislação, uma vez que tanto a legislação federal quanto a do
Estado de São Paulo não incluem a DQO.
Parece que os sólidos carreados dos reatores
anaeróbios devido à ascensão das bolhas de gás produzidas ou devido ao
escoamento, trazem maiores desvios nos resultados de DBO5,20 do que nos de
DQO.
Outro uso importante que se faz da DQO é para a previsão das diluições das amostras na análise de DBO5,20. Como o valor da DQO é superior e pode ser obtido no mesmo dia da coleta, poderá ser utilizado para balizar as diluições. No entanto, deve-se observar que as relações DQO/DBO5,20são diferentes para os diversos efluentes e que, para um mesmo efluente, a relação altera-se mediante tratamento, especialmente o biológico.
Desta forma, um efluente bruto que apresente
relação DQO/DBO5,20 igual a 3/1, poderá, por exemplo,
apresentar relação da ordem de 10/1 após tratamento biológico, que atua em
maior extensão sobre a DBO5,20.
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Fonte: Cetesb.gov.br
Exemplo
Dado que a captação padrão
de DBO nas águas residuais
domésticas é de 60
gramas/habitante/dia, se uma estação de tratamento recebe os efluentes de
uma população de 500 habitantes, de uma criação de 1000 suínos e ainda os
efluentes de um matadouro que processa 100 toneladas de carne por dia, tem-se:
DBO Pop = 60g/hab/dia x 500 hab = 30000g?dia
DBO suinos = 202g/animal/dia x 1000 suinos = 202000g/dia
DBO Pop = 60g/hab/dia x 500 hab = 30000g?dia
DBO suinos = 202g/animal/dia x 1000 suinos = 202000g/dia
Considerando-se uma
captação de 5800 litros (ou 5,8 m3)
de efluentes por tonelada (t) por dia, referente às 100 t de produção do
matadouro, tem-se :
Caudal Matadouro = 5,8 m3/t/dia x 100t/dia = 580 m3/dia
Caudal Matadouro = 5,8 m3/t/dia x 100t/dia = 580 m3/dia
Portanto,
o matadouro gera 5800 m3 de
efluentes por dia.
Dado que a DBO (ou
CBO) média dos efluentes produzidos pelo abate de animais, preparação e fabrico
de conservas de carne é de 1750 mg/l ou 1,75g/m³, tem-se que:
descrição: DBO_(matadouro) = 1,75g/m3\ cdot (5800 m3/dia = 10150g/dia
descrição: hab.eq = \frac (30000+10150+202000) = 4036 hab
descrição: DBO_(matadouro) = 1,75g/m3\ cdot (5800 m3/dia = 10150g/dia
descrição: hab.eq = \frac (30000+10150+202000) = 4036 hab
Para servir a uma
população de 500 habitantes mais a suinicultura e o matadouro com as
características anteriormente referidas, a estação precisa ter uma capacidade
de tratamento mínima de 4.036 habitantes equivalente, uma vez que:
§ 1000 suínos equivalem
a 3.367 hab.eq.
§ um matadouro para
processamento de 100 toneladas/dia equivale a 169 hab.eq.
Os valores a seguir
indicados dão uma referência da biodegradabilidade de um dado efluente :
CBO/CQO = 0 - efluente de difícil
tratamento biológico.
CBO/CQO = 1 - efluente de fácil
tratamento biológico.
Os
valores típicos da DBO (ou CBO) e da CQO (ou DQO) de um efluente doméstico
situam-se entre 0,4 e 0,6.
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